O documento descreve o sistema da medicina tibetana, que é representado como uma árvore com três raízes (organismo, diagnóstico e terapia), nove troncos e várias ramificações. A estrutura do sistema foi influenciada pela religião local Bön e pelo xamanismo, que enfatizam o número nove e crenças em espíritos. O documento também menciona outros aspectos culturais tibetanos relacionados à medicina tradicional.
2. FUNDAMENTOS
DA
MEDICINA
TIBETANA
de acordo com a obra rGyud-bzi
Volume II
Elizabeth Finckh
Traduzido por:
Williams Ribeiro de Farias
e Dra. Yeda Ribeiro de Farias
Editora Chakpori
2
4. PREFÁCIO
Durante toda sua história o Ocidente tem mostrado
uma saudável curiosidade e um vivo interesse na
sabedoria e na filosofia do Oriente. O Tibete foi,
especialmente, objeto de intensa especulação e sua
posição extremamente isolada, aliada à política de
desencorajamento aos estrangeiros, seduziu
imensamente a imaginação e o romantismo.
Mas foram também as pessoas no Ocidente,
estudantes, cientistas, escritores, historiadores e
médicos quem manifestaram uma qualidade admirável
de seriedade em suas tentativas de compreender o
mundo asiático. Estes esforços pioneiros para descobrir,
interpretar e avaliar o tesouro cultural do Tibete têm
crescido enormemente desde 1959, quando o país foi
invadido e ocupado pela China.
É no campo da medicina tibetana que os cientistas
Ocidentais têm realizado, recentemente, numerosos
projetos, envolvendo a tradução e a interpretação dos
textos e tratados médicos. Esta iniciativa deu origem à
a maiores possibilidades de contato e comunicação do
que o existente anteriormente no Tibete. Foi causado
também por um desejo de conservar e preservar a
medicina tibetana como parte de uma rica herança
cultural que está sendo atualmente influenciada pela
China.
A Dra. Finckh é talvez a primeira médica Ocidental
a traduzir e interpretar os principais textos da medicina
4
5. tibetana para uma língua Ocidental. Ela tem o mérito de
haver estudado na Tibetan Medical School em
Dharamsala sob a experiente orientação de médicos
tibetanos em 1962. Foi com o auxílio destes médicos
que os principais textos foram traduzidos e explicados.
A medicina tibetana hoje goza de um rápido e
crescente interesse e reputação entre os médicos
Ocidentais. A ciência da medicina tibetana e sua
praticabilidade está agora sendo reconhecida.
Congratulo a autora pelos seus esforços diligentes
e louváveis para propagar a medicina tibetana e desejo-
lhe todo sucesso e bem-aventurança em seu nobre
empreendimento.
DALAI LAMA
6 de Março de 1972
5
6. ÍNDICE
PREFÁCIO ..................................................................................................................... 4
INTRODUÇÃO E AGRADECIMENTOS ............................................................................... 7
CAPÍTULO UM O SISTEMA DA MEDICINA TIBETANA ............................ 11
ANATOMIA ................................................................................................................ 19
FISIOLOGIA ................................................................................................................ 23
PATOLOGIA ............................................................................................................... 28
CAPÍTULO DOIS DIAGNÓSTICO ................................................................. 32
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 32
A) BLOCO DE IMPRESSÃO ........................................................................................... 36
B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO ................................................................................. 38
C) TRADUÇÃO DO TEXTO............................................................................................ 39
D) APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 44
E) MÉTODOS DIAGNÓSTICOS ...................................................................................... 51
1. Observação ..................................................................................................... 54
2. Palpação.......................................................................................................... 60
3. Questionamento (Anamnese) ........................................................................... 72
CAPÍTULO TRÊS TERAPÊUTICA................................................................. 77
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 77
A) BLOCO DE IMPRESSÃO ........................................................................................... 81
B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO ................................................................................. 83
C) TRADUÇÃO DO TEXTO............................................................................................ 84
D) APRESENTAÇÃO .................................................................................................... 91
E) MÉTODOS DE TRATAMENTO ................................................................................. 105
1. Nutrição......................................................................................................... 105
2. Comportamento.............................................................................................. 110
3. Medicamentos ................................................................................................ 115
4. Tratamentos ................................................................................................... 128
CAPÍTULO QUATRO TIPOS CONSTITUCIONAIS ..................................... 145
1. Natureza e temperamento em geral ................................................................. 146
2. Condições que geralmente dão origem às doenças .......................................... 147
3. As Características do Sistema......................................................................... 147
CAPÍTULO CINCO O LIVRO RGYUD-BZHI................................................ 149
CAPÍTULO SEIS PESQUISA NA MEDICINA TIBETANA ....................... 155
TÍTULOS DOS TRABALHOS ........................................................................................ 161
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 164
6
7. INTRODUÇÃO E AGRADECIMENTOS
Não há dúvidas sobre o fato da medicina tibetana
ter despertado grande interesse no Ocidente. No
entanto, precisamente por esta razão, seria muito
perigoso, particularmente em uma época como a nossa
na qual estamos prontamente dispostos a experimentar
as práticas Orientais e “drogas milagrosas”, adotar sem
críticas, fragmentos separados do significativo Sistema
de Medicina Tibetana ou levantar, precocemente, a
questão de sua aplicabilidade. Primeiramente, é de
primordial importância que os fundamentos teóricos da
medicina tibetana e sua circunstância filosófica seja
cuidadosamente estudada.
Nos Fundamentos da Medicina Tibetana, Volume
1, apontamos para o fato de que, quando a acupuntura,
um outro método de tratamento asiático que tem
adquirido reconhecimento acadêmico em universidades
e que está sendo colocada em prática, foi introduzida no
Ocidente, diversos erros foram cometidos: o auxílio de
Sinologistas na tradução dos mais importantes trabalhos
médicos chineses foi solicitado tarde demais; este
método de tratamento foi colocado em prática cedo
demais; muito tempo foi gasto com desnecessárias
especulações filosóficas e, finalmente, não havia desde
o início qualquer terminologia médica adequada. Estes
erros não devem ser repetidos com a medicina tibetana.
Portanto, nosso primeiro passo deve ser estabelecer
uma terminologia médica realizada a partir das fontes
disponíveis e tornada clara com o auxílio e
aconselhamento de médicos tibetanos e tibetologistas.
7
8. Por esta razão, demos início no Volume 1 à
compilação de alguns fundamentos da medicina
tibetana. O estudo destes fundamentos, um capítulo
sobre os autores, sobre importantes trabalhos médicos e
um esboço do conteúdo do tratado padrão sobre
medicina tibetana, o rGyud bzi (Quatro Tratados), traz
ao leitor do Volume 1, através da transliteração, da
tradução e da apresentação dos textos, a organização
do sistema da medicina tibetana o qual consiste de três
raízes: a organização das partes do corpo, o diagnóstico
e a terapêutica. Através da tradução dos textos, foi
possível chegar à terminologia médica e descobrir o
princípio da medicina tibetana – uma consistente divisão
em três partes – e o fato de que a medicina tibetana é
uma doutrina de constituição.
O objetivo deste volume é expandir a terminologia
médica, tomando novamente textos do rGyud bzi como
base. No Volume 1, os 88 termos da Raiz A =
Organismo Doente e Saudável foram deduzidos (rGyud
bzi, Parte I, Capítulo 3). Neste Volume, devemos nos
concentrar nos textos referentes às duas outras raízes,
Diagnóstico = Raiz B e Terapêutica = Raiz C. Os blocos
de impressão serão trabalhados da mesma forma que
no Volume 1 (transliteração, tradução e apresentação)
de modo a analisar por completo a terminologia médica
derivada dos textos e englobando as nove disciplinas da
medicina tibetana. Ao todo, devemos então definir 283
termos: 3 raízes, 9 troncos, 47 ramos e 224 folhas.
Para esquematizarmos a apresentação das nove
disciplinas devemos utilizar o sistema da medicina
tibetana como guia porque com seu auxílio, é possível
ver claramente a estrutura da medicina tibetana.
O seguinte material será utilizado para breves
descrições das nove disciplinas:
8
9. 1. Os trabalhos relacionados no apêndice Título dos
Trabalhos.
2. P.A. Badmaev Glavnoe rukovodstovo po vracebnoj
nauke Tibeta Zud si v novom perevode P. A.
Badmaeva s ego vvedeniem, raz‟jasnjajuscim osnovy
tibetskoj vracebnoj nauki. St. Petersburg, 1903.
Conseguimos uma tradução alemã deste trabalho
russo que é uma tradução parcialmente resumida das
Partes 1 e 2 do rGyud bzi.
3. Csoma de Körös Analysis of a Tibetan Work (em:
Journal of the Asiatic Society of Bengal, 4, 1835, págs.
1-20)
4. Instrução oral e material escrito, as muitas tabelas dos
médicos tibetanos – pelas quais devo agradecer ao
meu professor tibetano, Yeshe Donden, e seus
alunos, Jhampa Kelsang e Barry Clark.
5. Agradeço ao Prof. R. E. Emmerick pela gentileza de
permitir que eu utilizasse sua tradução inglesa de
vários capítulos do rGyud bzi ainda não publicada.
Utilizei os capítulos 4 e 5 (rGyud bzi, Parte 1) quase
que palavra por palavra de sua tradução porque seria
presunçoso e, além disso, quase impossível para mim
tentar fazer minha própria tradução destes textos
extremamente difíceis considerando meu atual
conhecimento da língua tibetana que, apesar de ter
melhorado, é ainda insuficiente. Gostaria de expressar
meus agradecimentos ao Sr. Andrew Craston que
traduziu grande parte deste Volume.
Apesar de não estar dentro da abrangência deste
trabalho descrever a prática da medicina tibetana – este
assunto será desenvolvido no Volume 3 – será
necessário discutirmos brevemente alguns métodos
diagnósticos e tratamentos externos. Gostaria de
enfatizar que os métodos diagnósticos e terapêuticos
9
10. podem ser aplicados satisfatoriamente apenas depois
que os princípios teóricos forem estudados em detalhes
e sob a completa supervisão de médicos tibetanos.
A medicina tibetana não é uma técnica qualquer
que possa ser aprendida em um curso relâmpago. Uma
aplicação prematura e sem críticas de certos métodos
poderia resultar em um aniquilamento da medicina
tibetana, transformando-a em um outro tipo de medicina
alternativa. Minha intenção ao escrever este livro é
tornar claro que a medicina tibetana, com todos seus
fascinantes e valiosos discernimentos, deve ser
cuidadosamente estudada e examinada, podendo desta
forma ser preservada.
10
11. Capítulo Um O SISTEMA DA MEDICINA
TIBETANA
Os tibetanos desenvolveram seu próprio sistema
de medicina, individual e único, pois nenhum outro
sistema de medicina é organizado desta maneira.
Quando observamos especificamente os números
associados a este sistema, devemos nos lembrar do fato
de que ele possui muitas e variadas influências, algumas
particularmente fortes, como a indiana, a chinesa e a
budista. O caráter especial da medicina tibetana tornar-
se-ia apenas aparente se as influências acima
mencionadas, que também podem ter afetado os
números do sistema, forem descritos em detalhes. No
entanto, como mencionado no volume 1, teremos que
nos ocupar com este tópico em um próximo volume.
A medicina tibetana e os ensinamentos budistas
estão intimamente relacionados. Por esta razão,
planejamos inicialmente relacionar os já conhecidos
conceitos budistas aos números do sistema. A
interpretação das muitas ocorrências desta correlação
seria na verdade fácil porque a correlação é bastante
óbvia. No entanto, nem todos os números podem ser
explicados tão facilmente desta maneira. As seguintes
considerações induziram-me a abandonar o plano
original: aventurar-nos em qualquer um deles nos
desviaria do assunto principal deste livro ou, se a
descrição fosse inadequada, não teríamos feito justiça à
tremenda influência do budismo.
Entretanto, é possível explicar e esclarecer a
estrutura do sistema, seus números, o caráter especial e
a colorida diversidade da medicina tibetana, a qual está
11
12. também profundamente enraizada na crença popular do
Tibete (crença em espíritos prejudiciais, consulta a
oráculos, rituais mágicos, amuletos, métodos de
proteção contra espíritos prejudiciais, etc.) através da
discussão da antiga religião Bon do Tibete, do
Xamanismo e das tradições do Na-khi.
O sistema da medicina tibetana é retratada em
analogia com uma árvore. Nove troncos crescem das
três raízes da árvore – dois, três e quatro troncos,
respectivamente, um fato que aponta para a religião Bon
com seu número sagrado nove. A crença e o medo de
espíritos prejudiciais, as nove esferas do paraíso, os
nove degraus da escada-dmu do paraíso para a
montanha Yol ba, o banimento dos espíritos prejudiciais
pelos monges Bon através de poderes mágicos, o fato
da menção das 404 doenças, os rituais da morte,
conhecido como Bardo e sempre o número sagrado
nove: todos estes aspectos podem ter representado um
papel no desenvolvimento do sistema da medicina
tibetana.
O Xamanismo assim como a religião Bom serão
apenas mencionados neste trabalho, embora tenham
influenciado o desenvolvimento do sistema. Sobre este
aspecto, podem-se citar os nove filhos xamãs, o jejum
de nove dias, a colocação de nove árvores de faia, nove
postes e nove tijelas de oferendas, as nove
circumambulações da iniciação do xamã na qual ele
escala a vidoeira, a cerimônia de nove dias de duração,
os nove ninhos da árvore xamã e os nove pássaros que
podem ser vistos. Esta grande e sagrada árvore xamã
com seus nove entalhes e o topo que alcança o nono
paraíso poderia ter influenciado a divisão em nove
partes do sistema de medicina tibetana, que é da
mesma forma representado como uma árvore.
12
13. Os Na-khi1, uma tribo dos antigos Ch‟iang, viviam
como nômades em suas pastagens no noroeste do
Tibete. Suas tradições são bastante singulares. Eles
veneravam três paraísos, três terras e três zimbros. Um
altar era construído para o “sacrifício ao paraíso”; um
zimbro era colocado no centro com um carvalho à direita
(paraíso) e outro carvalho à esquerda (terra). Um ramo
de carvalho com duas bifurcações horizontais era
colocado à esquerda de cada árvore, e à direita, um
ramo de carvalho com dois entalhes horizontais. Uma
vara de álamo com quatro bifurcações no topo era
afixada atrás da árvore central. Uma pedra branca era
colocada na frente de cada árvore. Assim, em frente dos
nove, 3 vezes 3 árvores, três tigelas de arroz eram
oferecidas sobre o altar, em frente das quais estavam as
três pedras brancas. Há, portanto, uma grande
semelhança entre este exótico “sacrifício ao paraíso”,
uma cerimônia envolvendo a disposição de nove
árvores, duas das quais também revelam uma divisão
de duas e de quatro partes, respectivamente, e a árvore
do sistema tibetano.
É uma pena que tenha sido necessário condensar
esta parte do livro e que tenha sido possível apenas
mencionar aqui os pontos importantes. Um trabalho
mais detalhado dos aspectos mencionados
preencheriam um livro completo e auxiliaria a
demonstrar mais claramente a fascinante variedade da
medicina tibetana e tornar mais fácil a explicação do
sistema.
O sistema da medicina tibetana é particularmente
importante por numerosas razões. A típica divisão em
três partes, uma característica da medicina tibetana, é
óbvia e reconhecível por todo o sistema. As relações
das várias disciplinas umas com as outras podem ser
13
14. vistas; por exemplo, o número de folhas para os
medicamentos é dado como cinqüenta, o que
certamente corresponde à grande importância desta
disciplina na prática da medicina tibetana. Aprendemos
através do sistema que todos os detalhes referem-se
aos três tipos constitucionais. Finalmente, este sistema
nos possibilita apresentar a medicina tibetana de uma
maneira sistemática porque os nove troncos
correspondem às nove disciplinas.
Gostaria de explicar agora o esquema que deverei
utilizar para a pesquisa das nove disciplinas. Na tabela
seguinte, o sistema completo está representado com
raízes, troncos, ramos e folhas por meio dos quais os
termos empregados para descrever alguns dos troncos
são apenas equivalentes e não traduções literais 2. As
ilustrações (A, B e C) foram incluídas para que o leitor
possa visualizar as raízes. Antes da apresentação de
cada disciplina, foi incluída uma ilustração do tronco
correspondente (Ilustrações I-IX). Neste Volume, as
ilustrações foram incluídas em escala real de forma que
alguns nomes tibetanos escritos sobre as folhas podem
ser claramente reconhecidos e podem ser decifrados por
tibetologistas. Aos não-tibetologistas, estas ilustrações
oferecem uma boa elucidação do sistema. Incluí
também uma breve descrição das duas disciplinas,
Troncos I e II, os quais não são, na verdade, o objeto de
estudo deste Volume3, de forma que a estrutura da
medicina tibetana como um todo será evidente, ainda
que apenas de forma condensada. Portanto, podemos
observar que as disciplinas da medicina tibetana
correspondem àquelas da medicina Ocidental e que a
medicina tibetana está organizada de uma maneira
bastante sistemática.
14
15. O SISTEMA
Raízes Troncos Ramos Folhas
Raiz A = Organização das partes do corpo e as bases das
doenças
Organismo saudável I 3 25
Organismo doente II 9 63
rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 3 12 88
Raiz B = Diagnóstico
Observação III 2 6
Palpação IV 3 3
Questionamento V 3 29
rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 4 8 38
Raiz C = Terapia
Nutrição VI 6 35
Comportamento VII 3 6
Medicamentos VIII 15 50
Tratamentos IX 3 7
rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 5 27 98
47 224
15
16. RAIZ A
Organização das partes do corpo e
as bases das doenças
Organismo saudável Organismo doente
3 ramos 9 ramos
25 folhas 63 folhas
I II
16
18. RAIZ A
Tronco I = Organismo saudável
rnam par ma gyur pa
Ramos Folhas
nad 15
lus zungs 7
dri ma 3
3 25
18
19. ANATOMIA
Na visão da maneira pela qual os sepultamentos
eram conduzidos, os médicos tibetanos tiveram
certamente a oportunidade de realizar estudos
anatômicos detalhados. No entanto, nenhuma tentativa
parece ter sido feita para descobrir a verdadeira
estrutura anatômica do corpo. A anatomia tibetana
apresenta certas características típicas porque é
principalmente orientada para as funções e não para o
substrato material. Esta é a razão pela qual, na
apresentação da anatomia tibetana, um diagrama do
corpo descrevendo todas as funções parece ser mais
importante do que a exata descrição dos órgãos porque,
desta forma, as funções podem ser determinadas para
partes do diagrama. Este aspecto torna-se mais óbvio
quando observamos as ilustrações anatômicas. Além
disso, os tibetanos afirmam que existem áreas
intercorporais que são mais sutis que nosso substrato
Ocidental; são “campos de força” que formam canais de
energia os quais, em nossa maneira de pensar
Ocidental, são irreais. Termos como “canais vitais”, “fogo
digestivo” e muitos outros aspectos mostram claramente
que não podemos igualar estes “órgãos” com outros da
ciência anatômica Ocidental. Esta é também a razão
pela qual torna-se quase impossível definir estes
conceitos nos termos da medicina Ocidental. Podemos
apenas observar que os médicos tibetanos
desenvolveram, de maneira bastante consistente, uma
ciência da anatomia que não podemos comparar com a
nossa anatomia Ocidental. Uma observação mais
cuidadosa na anatomia tibetana, no entanto, ensina-nos
19
20. que esta abordagem, que enfatiza as funções, é de
grande utilidade prática.
É possível fazer apenas uma breve menção à
embriologia, que apesar de suas semelhanças com a
embriologia indiana, difere desta última em vários
pontos. A principal diferença é que, de acordo com a
embriologia tibetana, os órgãos sólidos (don) são
formados na 12a semana e os órgãos ocos (snod), na
13a. A embriologia tibetana também estabelece que o
sêmen do pai forma os ossos, o cérebro e a medula
espinhal enquanto que o sangue da mãe forma os
músculos, sangue, órgãos sólidos e órgãos ocos.
A anatomia é dividida nas seguintes quatro partes:
1) A organização das partes do corpo
a) As quantidades: rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad
kan (fleuma) e todos as partes componentes do corpo
podem ser relacionados uns com os outros de uma
maneira específica, por exemplo, a quantidade de
rLung (vento) deve preencher a bexiga, a quantidade
de mKris pa (bile) preenche o saco escrotal e a
quantidade de Bad kan (fleuma) equivale a três vezes
as duas mãos cheias.
b) As partes do corpo: O corpo humano é formado por
360 ossos, que são de 23 tipos diferentes, 12
articulações grandes, 210 articulações pequenas, 16
tendões, 900 fibras, 21.000 fios de cabelos e 11
milhões de poros. Os tibetanos diferenciam os órgãos
em 5 órgãos sólidos (don) – coração, pulmões, baço e
rins – e 6 órgãos ocos (snod) – intestino grosso,
vesícula biliar, intestino delgado, estômago, bexiga e
bsam se‟u. Existem também as nove entradas.
20
21. 2) O sistema de canais e suas conexões 4
a) Canais de concepção (chag pa‟i rtsa). Estes canais ou
veias possuem um caráter embrionário. Três canais
originam-se do umbigo: o primeiro canal expande-se
de forma ascendente e o cérebro se desenvolve a
partir daí; o segundo penetra no meio do corpo e o
canal vital desenvolve-se a partir daí; o terceiro canal
expande-se de forma descendente e os genitais
desenvolvem-se a partir daí.
b) Canais da existência (srid pa‟i rtsa): O tibetanos
fazem diferença entre quatro grandes canais. O canal
que forma os órgãos sensoriais está no cérebro e está
circundado por 500 pequenos canais. O canal que
sustenta a memória e a consciência está no coração e
é circundado por 500 pequenos canais. O canal que
forma os elementos do corpo está no umbigo e é
circundado por 500 pequenos canais. O canal que
executa a reprodução está na região dos genitais e é
circundado por 500 pequenos canais.
c) Canais de conexão („brel ba‟i rtsa): Na cabeça, o
canal vital escuro divide-se em 24 canais que suprem
os músculos e o sangue. Oito canais ocultos originam-
se das partes inferiores do canal vital e suprem os
órgãos sólidos e ocos. Há 16 canais visíveis que
suprem as articulações e 77 canais para circulação
sangüínea. Há também 112 pontos vitais, 189
pequenos canais de características variáveis, dos
quais 120 canais menores se originam. São
destinados às áreas mediana e interna do corpo.
Estes canais, por sua vez, dividem-se em 360 canais
menores ainda, que se dividem em 700 canais muito
finos que cobrem toda a superfície do corpo.
Assim como estes canais escuros, há um segundo
grupo de caráter branco ou claro. Os 19 chamados
21
22. canais de sustentação-água, dos quais 13 são
conectados com os órgãos sólidos e ocos, originam-
se no cérebro e são canais ocultos. Seis canais
visíveis são conectados com as articulações e deles
se originam os 16 canais de sustentação-água
menores.
d) Canais vitais (tshe yi rtsa): O primeiro canal passa
através da cabeça e de todo o corpo. O segundo
canal está conectado com a respiração. O terceiro
canal é o canal principal e mantém o crescimento
corporal.
3) Pontos vitais
Os pontos vitais ou pontos críticos são assim
denominados porque se um destes pontos for
prejudicado as consequências podem ser fatais. Há 302
pontos vitais dos quais 96 são tão perigosos que a pode
ocorrer a morte se um deles for atingido. Dentre os
demais, 49 são perigosos também, mas médicos
experientes podem curar tais distúrbios. As lesões nos
157 pontos restantes podem ser curadas. Faz-se uma
distinção entre 7 tipos de pontos vitais: (1) carne = 45,
(2) gordura = 8, (3) ossos = 32, (4) tendões e (5) fibras =
14, (6) órgãos sólidos e ocos = 13, (7) vasos = 190.
Estes pontos vitais estão espalhados pelo corpo inteiro
da seguinte maneira: cabeça = 62, pescoço = 33, tronco
= 95 e membros = 112. Se estes pontos vitais são
lesados, podem ocasionar vários distúrbios mais graves
ou menos graves. O tipo mais perigoso de lesão ocorre
nos vasos, na gordura, nos órgãos sólidos e ocos; se
estas partes do corpo são prejudicadas, as
conseqüências são fatais. Na opinião dos médicos
tibetanos, é extremamente importante que sejam
tomados cuidados especiais com os pontos vitais,
22
23. particularmente com os vasos – isto significa que o
método terapêutico da sangria deve levar em
consideração os pontos vitais dos vasos. Tenho
observado freqüentemente como os pacientes tibetanos
oferecem resistência quando uma amostra de sangue é
retirada da veia na dobra do braço, quando feita da
maneira ocidental, que normalmente utiliza esta veia
para tais amostras ou para injeções. A razão para tal
resistência é que este é um ponto que corresponde
exatamente a um ponto vital.
4) Entradas
Há uma diferença entre dois tipos de entradas dos
caminhos de circulação: entradas internas e externas.
As aberturas internas são: os constituintes do corpo (7),
as impurezas (3), rLung da sustentação da vida (1) e o
alimento (1) = 13 aberturas internas. As aberturas
externas são: narinas (2), ouvidos (2), olhos(2), boca (1),
ânus (1), totalizando 12 aberturas.
As doenças ocorrem como consequência de erros
de comportamento ou de nutrição porque os canais
naturais do organismo estão bloqueados.
FISIOLOGIA
1) Partes do corpo que podem ser lesadas
Constituintes do corpo: o quilo (1) faz com que os
outros seis constituintes desenvolvam-se e é
transformado em sangue; o sangue (2) umedece o
corpo, mantém a vida e é transformado em carne; a
carne (3) recobre o corpo e transforma-se em gordura; a
gordura (4) torna o corpo lubrificado e é transformado
23
24. em osso; o osso (5) sustenta o corpo e desenvolve-se
em medula óssea; a medula óssea (6) é importante para
a nutrição e é transformada em sêmen; o sêmen (7)
realiza a fertilização e preserva a vida.
As impurezas são as fezes e a urina, resultantes
da digestão do alimento, e o suor que amacia a pele.
O crescimento do corpo depende do suporte
mútuo dos constituintes corporais, das impurezas e das
bases das doenças. O calor combinado gerado por
estes três fatores formam o chamado calor do fogo
digestivo o qual, por sua vez, produz saúde, vitalidade e
energia. Este fogo digestivo forma a base da digestão na
qual, acima de tudo, a vesícula biliar representa parte
ativa.
Durante o processo digestivo, os alimentos e as
bebidas são partidos em partes menores e decompostos
no trato digestivo com o auxílio de rLung, mKris pa e
Bad kan, os quais realizam várias funções. O processo
digestivo é influenciado pelas qualidades do sabor.
Finalmente, a porção sólida do alimento transforma-se
em fezes e a porção líquida transforma-se em urina. O
quilo é transformado em muco no estômago, sangue é
transformado em bile na vesícula biliar, carne é
transformada em impurezas, gordura em oleosidade,
ossos em unhas, cabelos e dentes, e a medula óssea
em pele e fezes. O complexo processamento digestivo
demora seis dias para completar-se.
2) Partes que lesam o corpo
Se os três humores – rLung, mKris pa e Bad kan –
alteram-se de qualquer forma, por exemplo, quanto à
quantidade ou localização no corpo, as funções
corporais são perturbadas. Se os mesmos não se
24
25. alteram e permanecem em equilíbrio, o corpo mantém-
se saudável. Os três humores possuem: tipos
específicos, localizações, relações com o fogo digestivo,
efeitos sobre o estômago, funções e características.
rLung (vento): Sustentador da vida, Movimento
ascendente, Penetrante, (acompanha o) Fogo e
Remoção descendente são os cinco tipos. Está
localizado abaixo do coração e do umbigo. Um rLung
forte torna o fogo digestivo irregular. Se rLung é
dominante, o estômago está firme. As funções gerais de
rLung são: movimentar o corpo, influenciar a respiração
para dentro e para fora, manutenção do corpo e
conservação da clareza dos órgãos sensoriais. As
funções específicas dos cinco tipos de rLung são muitas
e variadas e podem, até certo ponto, ser deduzidas a
partir de seus nomes. As características são: áspero,
leve, frio, aguçado, firme e móvel.
mKris pa (bile): Digestivo, Responsável pelo brilho
do quilo, Satisfação dos desejos, Permite a visão e
Clareador a cor da pele são os cinco tipos. Está
localizado entre o coração e o umbigo. O fogo digestivo
torna-se pungente por causa de um mKris pa forte. Se
mKris pa é dominante, o estômago fica macio. As
funções gerais de mKris pa são: atua sobre a digestão,
limpa a pele e produz uma compleição pura, um coração
corajoso e um estado feliz na mente em geral. As
funções específicas são evidenciadas pelos nomes
dados a eles. As características são: oleoso, pungente,
leve, malcheiroso, limpador e úmido.
Bad kan (fleuma): Sustentação, Decomposição,
Responsável pelo paladar, Produtor de satisfação e
Possibilita a flexão são os cinco tipos. Está localizado
acima do coração e do umbigo. Um Bad kan forte torna
o fogo digestivo fraco e reduzido. Se Bad kan é
25
26. dominante o estômago não se torna nem macio nem
duro. As funções gerais de Bad kan são: fixa e une as
articulações, produz estabilidade ao corpo e à mente e
fornece resistência ao corpo. As funções específicas dos
cinco tipos são evidenciadas pelas suas denominações.
As características são: oleoso, frio, pesado, embotado,
macio, estável e adesivo.
26
27. RAIZ A
Tronco II = Organismo doente
rnam par gyur pa
ramos folhas
rgyu 3
rkyen 4
„jug sgo 6
gnas 3
lam 15
ldang dus 9
(na so, Yul,
dus)
„bras bu 9
ldog pa‟i rgyu 12
mdo don 2
9 63
27
28. PATOLOGIA
A doutrina da doença é introduzida por uma
descrição dos quatro precursores da morte. Faz-se uma
diferenciação entre precursores distantes tais como as
mudanças no caráter do paciente, seus sonhos, e os
precursores próximos, incertos e certos da morte.
A patologia em si é dividida de maneira sistemática
em sete seções e estudá-la, Capítulo 3 do rGyud bzhi,
Parte 1, já traduzido, fornece-nos pontos de referências
úteis. Com relação às causas (rgyu), a distinção é feita
entre causas distantes, tais como os três “venenos”, e as
causas próximas. Nesta seção, nós também
encontramos a importante passagem que estabelece
que, dentre os três humores, rLung (vento) é a causa de
todas as doenças por sua influência sobre ambos, o
calor e o frio corporais. Com relação às causas
predisponentes (rkyen), encontramos explicações
bastante longas sobre as influências do tempo, nutrição,
comportamento e demônios (ou estados mentais
prejudiciais). A terceira seção, as formas de entrada („jug
sgo), ensina-nos como, após terem sido lesados os
constituintes corporais e as impurezas, as entradas
finalmente se abrem e a doença toma seu curso. A
quarta seção, localização (gnas), descreve quais partes
do corpo são afetadas. A próxima seção nos informa das
características da doença. A redução e a elevação e,
finalmente, o distúrbio completo dos humores, os
constituintes corporais e as impurezas são descritas
juntamente com os vários sintomas. Aqui, descobrimos
que, ao final, todas as doenças estão relacionadas com
o calor e o frio. Além disso, na sétima seção e na seção
final, antes da classificação das doenças (6), também
28
29. lemos que as doenças possuem formas individuais e
que há inúmeras formas e tipos de doenças.
A classificação em 4 x 101 doenças é típica da
medicina tibetana. Devo omitir outras divisões dentro da
patologia e mostrar a forma sistemática desta
classificação de maneira a demonstrar a estrutura das
404 doenças, sem mencionar os nomes e os sintomas.
29
30. Classificação das doenças
A. Três humores
rLung
Tipo 1-20
Localização: pele, carne, vasos, ossos 21-24
órgãos sólidos 25
órgãos ocos 26
órgãos sensoriais 27
Classes particulares: rLung 28-32
rLung + Bad kan 33-37
rLung + mKris pa 38-42
42
mKris pa
Tipo 1-4
Localização: pele, carne, vasos, ossos 5-8
órgãos sólidos 9
órgãos ocos 10
órgãos sensoriais 11
Classes particulares: mKris pa 12-16
mKris pa + rLung 17-21
mKris pa + Bad kan 22-26
26
Bad kan
Tipo (simples) 1-6
Localização: pele, carne, vasos, ossos 7-10
órgãos sólidos 11
órgãos ocos 12
órgãos sensoriais 13
Classes particulares: Bad kan 14-18
Bad kan + rLung 19-23
Bad kan + mKris pa 24-28
Tipo (complexo) 29-33
33
101
30
31. B. Predominâncias
Simples Elevação e 18
Dois humores predominantes redução de 18
Três humores predominantes humores 38
Superveniente 27
101
C. Localizações
Região superior 18
Região interna 19
Região inferior Corpo 5
Região externa 20
Interna e externa 37
Mente 2
101
D. Variações
Doenças internas 48
Ferimentos 15
Febre e doenças quentes 19
Pústulas 19
101
A. Três humores 101
B. Predominâncias 101
C. Localizações 101
D. Variações 101
Total de doenças 404
31
32. Capítulo Dois DIAGNÓSTICO
Sumário do Capítulo
Introdução
A) Blocos de impressão do rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo
4 – fólios 8a, 8b, 9a
B) Transliteração do texto
C) Tradução do texto
D) Apresentação
E) Métodos diagnósticos
1. Observação
2. Palpação
3. Questionamento
INTRODUÇÃO
Na transliteração, a divisão do texto em estrofes
de quatro linhas foi ignorada, como no Volume I. Os
parênteses que foram incluídos na transliteração (8b1-
9a1) mostram os fólios, as páginas e as linhas do bloco
de impressão. Os números que aparecem dentro de
colchetes correspondem aos da tradução; em outras
palavras, os números [5]-[32] foram incluídos na
tradução de forma que os termos correspondentes
possam ser encontrados sem dificuldades. Na tradução
do texto, os termos são marcados por números, com III-
V representando os troncos e 1-38, as folhas. Esta
identificação não foi de fácil realização e em alguns
casos foi possível apenas com o auxílio de comentários.
32
33. Dificuldades particulares surgiram na classificação do
Tronco V = Questionamento. Felizmente, no entanto, a
informação dos médicos tibetanos foi particularmente
útil. Portanto, foi possível realizar a identificação de
todas as 38 folhas e os 8 ramos de forma que todos os
termos puderam ser definidos.
Na apresentação, foi impossível evitar em algumas
situações o uso de termos retirados do texto original de
uma forma gramatical ligeiramente diferente.
Os troncos da Raiz B = Diagnóstico
Tronco III Observação
Tronco IV Palpação
Tronco V Questionamento
foi assim analisado. Após o bloco de impressão (A), a
transliteração (B), a tradução (C) e a apresentação (D)
vem uma descrição dos métodos diagnósticos (E),
principalmente dedicada ao mais importante método
diagnóstico utilizado pelos médicos tibetanos, o
diagnóstico pelo pulso.
33
34. RAIZ B
Diagnóstico
Observação Palpação Questionamento
2 ramos 3 ramos 3 ramos
6 folhas 3 folhas 29 folhas
III IV V
34
38. B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO
de nas yang drang srong Rig pa‟i ye shes kyis „di skad ces gsungs so
kye drang srong chen po nyon cig
nad la blta reg dri bas yongs shes bya [1]
(8b1) mig gis blta ba lce dang chu la brtag [2]
brtag pa „di ni mthong ba yul rig yin [3]
sor mos reg pa brda sbyor „phrin pa rtsa [4]
brtag pa „di ni dpyod pa don rig yin [5]
ngag gis dri ba slong rkyen na lugs zas [6]
brtag pa „di ni thos pa (8b2) sgra rig yin [7]
rlung gi lce ni dmar zhing skam la rtsub [8]
mkhris lce bad kan skya sar mthug pos g-yogs [9]
bad kan skya gleg mdangs med „jam la rlon [10]
rlung gi chu ni chu „dra lbu ba che [11]
mkhris chu dmar ser rlangs che dri ma (8b3) dugs [12]
bad kan chu ni dkar la dri rlangs chung [13]
rlung gi rtsa ni rkyal stong skabs su sdod [14]
38
39. C) TRADUÇÃO DO TEXTO
Então novamente o sábio Rig pa‟i ye shes falou:
“Oh grande sábio, ouça-me! No caso das doenças,
elas podem ser reconhecidas completamente através da
observação, da sensação (do pulso) e do
questionamento.
Observar com os olhos e o exame da língua (I) e
da urina (II) – estes exames dão o conhecimento do
local, por causa da observação.
Sentir com o dedo o (batimento do ) pulso (III-V)
que transmite a informação – [5] este exame dá o
conhecimento do ponto principal, por causa da
investigação.
Questionar com a voz as causas relacionadas (VI),
as condições da doença (VII) e a alimentação (VIII) –
este exame fornece o conhecimento da fala, por causa
da audição.
A língua de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) rLung é vermelha, seca e áspera (1).
A língua de (uma pessoa que sofre de) mKris pa é
coberta com muco espesso e castanho-amarelado.
[10] A língua de (uma pessoa que sofre de uma
doença de) Bad kan é cinza, grossa, sem brilho, lisa e
úmida (3).
A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) rLung é semelhante à água (e apresenta) bolhas
grandes (4).
A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) mKris pa é amarelo-avermelhada, (apresenta) muito
vapor e (possui) cheiro picante (5).
A urina de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) Bad kan é branca, possui pouco odor e pouco vapor
(6).
39
40. O pulso de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) rLung é flutuante, vazio e interrompido às vezes (7).
40
41. Mkhris pa‟i rtsa ni mgyogs rgyas grims par „phar [15]
bad kan rtsa ni bying rgud dal ba‟o [16]
dri ba yang la rtsub pa‟i zas spyod kyi [17]
(8b4) rkyen gyis g-yal „dar bya rmyang grang shum byed [18]
dpyi dang rked pa rus tshigs ma lus na [19]
gzer ba nges med „pho zhing stong skyugs byed [20]
dbang po mi gsal shes pa „tshub pa dang [21]
bkres dus na zhing snum bcud phan par nges [22]
rno zhing tsha (8b5) ba‟i zas dang spyod lam gyis [23]
kha kha mgo na sha drod tsha ba dang [24]
stod gzer zhu rjes na zhing bsil ba phan [25]
lci la snum pa‟i zas dang spyod lam gyis [26]
dang ga mi bde kha zas „ju ba dka‟ [27]
skyug cing kha mngal pho ba tshing ste sgreg [28]
(8b6) lus sems lci la phyi nang gnyis ka grang [29]
zos rjes mi bde zas spyod dro na „phrod [30]
de ltar brtag thabs sum cu rtsa brgyad kyis [31]
nad kun „khrul med nges par gtan la „bebs [32]
zhes gsungs so
bdud rtsi snying po yan lag brgyad pa (9a1) gsang ba man ngag gi
rgyud las ngos „jin rtags kyi le‟u ste bzhi pa‟o
41
42. [15] O pulso de (uma pessoa que sofre de uma
doença de) mKris pa bate rapidamente (e pulsa)
sutilmente (8).
O pulso de (uma pessoa que sofre de uma doença
de) Bad kan é profundo, fraco e lento (9).
(Quanto ao) questionamento, por causa de
alimento e comportamento leve e áspero, (10):
bocejos e tremores (11), espreguiçamento (12), calafrios
(13), dores em todas as articulações da coxa e quadril
(14) [20], dores indefinidas que se movimentam (15),
vômito (de estômago) vazio (16), os órgãos dos sentidos
não têm brilho (17), o conhecimento está embotado (18),
há dor na hora da fome (19).
Alimento oleoso é certamente benéfico (20).
(Condições das doenças) por causa de alimento e
comportamento pungente e quente (21):
gosto amargo (22), cefaléias (23), ondas de calor (24)
[25], dores na região superior (do corpo) (25), dores
após a digestão (26).
(Alimento) frio (27) (é certamente) benéfico.
(Condições das doenças) por causa de alimento e
comportamento pesado e oleoso (28):
falta de apetite (29), dificuldade em digerir o alimento
(30), vômitos (31), (gosto ruim na) boca (32), distensão
abdominal (33), eructações (34), corpo e mente tornam-
se pesados (ambos) (35), sensação de frio dentro e fora
do corpo (36), [30] desconforto após comer (37).
Alimento e comportamento mornos (38) são
certamente benéficos.
42
43. Portanto, por meio dos 38 métodos de exame,
todas as doenças (podem) ser classificadas sem erro e
com certeza.”
Assim expressou o sábio.
Quarto capítulo sobre o diagnóstico do Tratado
Secreto da Instrução sobre os Oito Ramos da Essência
da Imortalidade.
43
44. D) APRESENTAÇÃO
RAIZ B
Diagnóstico ngos ‘dzin rtags
Tronco III
Observação blta
Tronco III tem dois ramos:
1º ramo = língua (I) lce
2º ramo = urina (água) (II) chu
2 ramos
Estes dois ramos correspondem aos detalhes gerais do
Tronco = Observação
Do 1º ramo nascem 3 folhas
Língua (I) lce
rLung (1) rlung
vermelha dmar
seca skam
áspera rtsub
Língua (I) lce
mKris pa (2) mkhris pa
coberta com muco grosso e castanho bad kan skya sar
mthug pos g-yogs
Língua (I) lce
Bad kan (3) bad kan
cinza skya
grossa gleg
sem brilho mdangs med
macia „jam
úmida rlon
44
45. Do 2º ramos nascem 3 folhas
Urina (II) chu
rLung (4) rlung
semelhante à água chu „dra
bolhas grandes lbu ba che
Urina (II) chu
mKris pa (5) mkhris pa
amarelo-avermelhada dmar ser
muito vapor rlangs che
cheiro quente 5 dri ma dugs
Urina (II) chu
Bad kan (6) bad kan
branca dkar
pouco cheiro dri chung
pouco vapor rlangs chung
6 folhas
Estas 6 folhas contém detalhes específicos do
Tronco = Observação
RAIZ B
Tronco III = 2 ramos
Ramo 1 = 3 folhas
Ramo 2 = 3 folhas
6 folhas
45
46. Raiz B
Diagnóstico ngos ‘dzin rtags
Tronco IV
Sensação (do pulso do vaso) = Palpação reg pa
Tronco IV tem 3 ramos:
1º ramo = rLung (III) rlung
2º ramo = mKris pa (IV) mkhris pa
3º ramo = Bad kan (V) bad kan
3 ramos
Estes 3 ramos correspondem aos detalhes gerais do
Tronco = Sensação (do pulso do vaso) = Palpação
Do 1º ramos nasce 1 folha
rLung (7) rlung
flutuante rkyal
vazio stong
com interrupções skabs su sdod
Do 2º ramo nasce 1 folha
mKris pa (8) mkhris pa
bate rapidamente, difunde-se mgyogs rgyas grims par
(e bate) sutilmente „phar
Do 3º ramo nasce 1 folha
Bad kan (9) bad kan
profundo bying
fraco rgud
lento dal ba
3 folhas
Estas 3 folhas contém detalhes específicos do Tronco =
Sensação (do pulso do vaso) = Palpação
46
47. RAIZ B
Tronco IV = 3 ramos
Ramo 1 = 1 folha
Ramo 2 = 1 folha
Ramo 3 = 1 folha
3 folhas
RAIZ B
Diagnóstico ngos ‘dzin rtags
Tronco V
Questionamento dri ba
Tronco V tem 3 ramos:
1º ramo = causas produtoras (VI) slong rkyen
2º ramo = condições das doenças (VII) na lugs
3º ramo = alimentação (VIII) zas
3 ramos
Estes 3 ramos correspondem aos detalhes gerais do
Tronco = Questionamento
Do 1º ramo nascem 3 folhas
Causas produtoras (VI) slong rkyen
rLung (10) rlung
leve yang
áspero rtsub
mKris pa (21) mkhris pa
pungente rno
quente tsha
Bad kan (28) bad kan
47
48. pesado lci
oleoso snum
Do 2º ramo nascem 23 folhas
Condições das doenças (VII) na lugs
rLung: rlung
1. bocejos e tremores (11) g-yal „dar
1. espreguiçamento (12) bya rmyang
1. calafrios (13) grang shum byed
1. dores em todas as articulações da dpyi dang rked pa
coxa e quadril (14) rus tshigs ma lus na
1. dores indefinidas que se movi- gzer ba nges med
mentam (15) „pho
1. vômito (de estômago) vazio (16) stong skyugs byed
1. os órgãos sensoriais não têm brilho (17) dbang po mi gsal
1. conhecimento está embotado (18) shes pa „tshub pa
1. dor quando tem fome (19) bkres dus na
mKris pa mkhris pa
1. gosto amargo (22) kha kha
1. cefaléias (23) mgo na
1. ondas de calor (=febre) (24) sha drod tsha ba
1. dores na região superior (do corpo) (25) stod gzer
1. dores após a digestão (26) zhu rjes na
Bad kan bad kan
1. falta de apetite dang ga mi bde
1. dificuldade em digerir o alimento (30) kha zas „ju ba dka‟
1. vômitos (31) skyug
1. (gosto ruim na) boca (32) kha mngal
1. distensão abdominal (33) pho ba tshing
1. eructações (34) sgreg
1. corpo e mente tornam-se pesados (35) lus sems lci
1. sensação de frio dentro e fora do phyi nang gnyis ka
corpo (36) grang
1. desconforto após comer (37) zos rjes mi bde
48
49. Condições das doenças:
rLung 9
mKris pa 5
Bad kan 9
23
Do 3º ramo nascem 3 folhas
Alimentação (VIII) zas
rLung: rlung
oleosa (20) snum
mKris pa: mkhris pa
fria (27) bsil
Bad kan: bad kan
morna (38) dro
29 folhas
Estas 29 folhas contém detalhes específicos do Tronco =
Questionamento
RAIZ B
Tronco V = 3 ramos
Ramo 1 = 3 folhas
Ramo 2 = 23 folhas
Ramo 3 = 3 folhas
29 folhas
49
50. Os seguintes termos foram retirados do Capítulo 4
(Parte 1) do livro rGyud bzhi:
Raiz do Diagnóstico = ngos „dzin rtags kyi rtsa ba
Tronco III = Observação 2 ramos 6 folhas
Tronco IV = Palpação 3 ramos 3 folhas
Tronco V = Questionamento 29 ramos 29 folhas
8 ramos 38 folhas
50
51. E) MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
Um médico tibetano tenta chegar ao fundo das
causas de uma doença em particular através de um
diagnóstico claro e, ao mesmo tempo, descobrir o tipo
constitucional do paciente. Para diagnosticar os
distúrbios que foram causados por fatores prejudiciais, o
médico começa a realizar os seguintes exames:
um exame geral do corpo
um exame das partes afetadas do corpo
um exame do abdome e da pele
tomada de temperatura do paciente – através do exame
do pulso, etc.
Então, o médico realiza exames mais específicos
com uma observação e exame dos órgãos sensoriais,
das secreções e excreções – fezes, urina, escarro,
sangue e vômitos.
Quando estes exames estiverem completos, os
três métodos diagnósticos que foram analisados em
nosso texto são aplicados: observação, palpação e
questionamento.
Na descrição destes métodos a seguir, será
impossível, evidentemente, denominar todos os
sintomas que são típicos das várias doenças. Melhor
que isso, esperamos que se torne claro que os métodos
diagnósticos são também organizados de uma maneira
sistemática de acordo com os três humores – rLung
(vento), mKris pa (bile) e Bad kan (fleuma). Gostaria de
adicionar também que tive inúmeras oportunidades,
durante minhas visitas aos Himalaias em 1962 e 1967,
de observar médicos tibetanos realizando tais exames.
51
52. No entanto, uma avaliação exata da precisão dos
diagnósticos foi possível apenas alguns anos depois, em
1970, quando o Dr. Yeshe Donden, meu professor,
passou algum tempo como meu hóspede. Em meu
consultório ele foi apresentado a muitos de meus
pacientes cujas patologias eu mesma já havia
diagnosticado com exatidão. Descobri que Yeshe
Donden era capaz de chegar a um diagnóstico
extremamente preciso sem questionar o paciente sobre
quaisquer aspectos – simplesmente através do exame
do pulso e um exame da urina.
52
53. RAIZ B
Tronco III = Observação
blta
ramos folhas
lce 3
chu 3
2 6
53
54. 1. Observação
Diagnóstico através do exame da língua
Na medicina chinesa, o exame da língua é o
segundo método mais importante de diagnóstico depois
do exame do pulso. Todas as regiões do corpo estão
relacionadas exatamente com as várias partes da língua
de forma que as funções dos órgãos possam ser
interpretadas. Tal distribuição precisa e metódica dos
órgãos nas várias partes da língua não é encontrada na
medicina tibetana. No entanto, o diagnóstico pelo exame
da língua representa ainda assim um papel importante
na medicina tibetana e seu valor pode ser avaliado pelo
grande número de sintomas, característicos de várias
doenças, relacionados à língua. Apesar disso, este
método não ocupa uma posição central como na
medicina chinesa.
Antes de realizar um exame detalhado, qualquer
tipo de partículas de alimento deve ser removido da
língua. O exame deve, se possível, ser realizado à luz
do dia ou com ótima iluminação. Antes do exame, o
paciente deve ser questionado sobre quais alimentos ou
bebidas ele tenha comido ou bebido.
Dedica-se uma atenção especial às seguintes
características:
1. Coloração da língua.
2. Camada que recobre a língua.
3. Natureza da língua.
54
55. Nas doenças de rLung (vento), a língua apresenta-se:
vermelha
seca
áspera
Nas doenças de mKris pa (bile), a língua apresenta-se:
coberta com uma grossa camada de muco
castanho-avermelhado.
Nas doenças de Bad kan (fleuma), a língua apresenta-se:
cinza
grossa
sem brilho
macia
úmida
55
56. Diagnóstico através do exame da urina
Este método diagnóstico é considerado pelos
médicos tibetanos como particularmente importante.
Isso é indicado pelo fato de que no livro rGyud bzhi
(Parte 4, Capítulo 2), as numerosas características das
várias doenças são consideradas de uma maneira
detalhada e bastante exata.6 Este método é também de
grande importância na prática da medicina tibetana.
Quando possível, o paciente a ser examinado
deve estar de estômago vazio ou, pelo menos, não ter
ingerido grande quantidade de alimento. A micção da
manhã é a melhor para o exame da urina – à noite, o
exame deve ser evitado porque a coloração da urina é
afetada pelos gêneros alimentícios que o paciente tenha
ingerido durante o dia. Yeshe Donden utilizou apenas a
urina da manhã para realizar tal diagnóstico nos
pacientes que examinou em meu consultório.
A urina normal é descrita como segue: coloração
amarelo-esbranquiçada, exala quantidade normal de
vapor, não forma muitas bolhas e apresenta um odor
tênue.
Yeshe Donden pediu-me um recipiente em forma
de tigela, pequeno e limpo, para realizar o exame. Os
médicos tibetanos nos Himalaias também enfatizaram
que o recipiente deve ser muito limpo. Em seguida, o
médico requisitou uma vareta de madeira clara. A urina
a ser examinada é despejada dentro do recipiente e
agitada com a vareta de madeira.
Observei que o exame subsequente dura longo
tempo porque as seguintes características devem ser
registradas:
1. Coloração
56
57. 2. Formação de vapor
3. Cheiro
4. Formação de bolhas
5. Sedimentos
Todas essas características são importantes, mas
a formação de bolhas e o sedimento parecem ser
particularmente significativos.
Nas doenças de rLung (vento) são formadas
bolhas grandes e azuis.
Nas doenças de mKris pa (bile) poucas bolhas
aparecem muito rapidamente.
Nas doenças de Bad kan (fleuma) as bolhas são
pequenas e azuladas.
Nas doenças quentes há grande quantidade de
sedimento muito espesso.
Nas doenças frias há pequena quantidade de um
sedimento muito ralo.
Nas doenças de rLung, a urina possui as seguintes
características:
semelhante à água
grandes bolhas.
Nas doenças de mKris pa, a urina apresenta as
seguintes características:
amarelo-avermelhada
cheiro forte.
Nas doenças de Bad kan, a urina apresenta as
seguintes características:
branca
pouco odor
pequena quantidade de vapor.
Yeshe Donden enfatizou particularmente que há
certas características que apontam para a presença de
57
58. doenças fatais – e que elas também são descritas no
rGyud bzhi como citado a seguir:
– uma doença fatal de rLung está presente quando a
urina é quase azul escura na coloração e apresenta a
superfície ondulada;
– uma febre fatal está presente quando a urina é
vermelho-escura e apresenta odor bolorento, e quando
estes sintomas não desaparecem mesmo após a
prescrição de medicamentos para reduzir a febre;
– uma doença fria fatal está presente quando a urina
não exala qualquer cheiro, apresenta a coloração quase
azul, não há qualquer sedimento nem formação de
bolhas, e ainda se esses sinais não desaparecem após
a prescrição da medicação correspondente.
O diagnóstico feito através do exame da urina, no
qual os médicos tibetanos possuem domínio magistral, e
o qual é realizado apenas com a utilização dos órgãos
sensoriais, deve encorajar-nos, médicos ocidentais, a
desenvolvermos a sensibilidade de nossos órgãos
sensoriais, embotados pela nossa confiança em
instrumentos e equipamentos, de forma a colocar em
prática métodos diagnósticos sensíveis como esse. O
diagnóstico através da urina praticado pelos médicos
tibetanos poderia ser de grande auxílio para nós
também.
58
59. RAIZ B
Tronco IV = Palpação
reg pa
ramos folhas
rlung 1
mkhris pa 1
bad kan 1
3 3
59
60. 2. Palpação
Diagnóstico através do exame do pulso
Para os médicos tibetanos, as funções dos órgãos
parecem ser mais importantes do que o conhecimento
de sua estrutura anatômica fundamental. O diagnóstico
através do pulso é visto como o mais importante método
diagnóstico por causa da informação sobre as funções
dos órgãos obtida dessa maneira. Em outras palavras,
as funções orgânicas – palpáveis em posições no pulso
– tornam-se evidentes aos médicos tibetanos e são,
portanto, uma clara indicação do tipo de terapia a ser
aplicada.
Ao reconhecermos o diagnóstico pelo pulso
utilizado nos métodos de tratamento asiáticos,
cometemos sempre o mesmo erro. Consideramos que
os órgãos da anatomia ocidental são idênticos à
perspectiva funcional dos órgãos na medicina asiática,
em nosso caso, com os “órgãos” don e snod. Estes
termos tibetanos são apenas vagamente relacionados
com os órgãos da anatomia ocidental.
Técnica
Os médicos tibetanos distinguem três posições
nas quais os pulsos devem ser sentidos:
os pulsos superiores (cabeça)
os pulsos medianos (mão)
os pulsos inferiores (pé)
60
61. No entanto, a palpação na mão, ou seja, os pulsos
medianos, é a mais comumente praticada pelos médicos
tibetanos. O médico utiliza sua mão direita para
examinar os pulsos da mão do paciente que fica do lado
esquerdo do corpo. A palpação é realizada com o dedo
indicador (mtshon), o dedo médio (kan ma) e o dedo
anelar (chag).
O exame real do pulso é realizado da seguinte
maneira. O médico toma a mão do paciente e vira-a de
forma que os sulcos do punho possam ser vistos
facilmente. Então o médico pega a outra mão do
paciente e coloca a falange distal desta mão sobre o
sulco proximal da outra mão. Assim, a posição do pulso
é indicado pela distância entre o relevo da falange do
polegar e o sulco da mão do paciente. O médico coloca
seus três dedos acima relacionados sobre este ponto –
eles devem estar dispostos em linha reta e não devem
tocar uns nos outros. A pressão exercida sobre cada um
dos três dedos é diferente, com o dedo indicador
exercendo a menor pressão.
As posições do pulso parecem-me dispostas
ligeiramente mais para o meio do que as dos chineses.
Normalmente, o exame do pulso não é realizado em
ambas as mãos ao mesmo tempo; nas mulheres o pulso
da mão direita é examinado primeiro, nos homens, o
pulso da mão esquerda. Após, os pulsos de ambas as
mãos são examinados ao mesmo tempo. Alguns
médicos tibetanos – aqueles com grande experiência –
examinam na verdade, desde o início, os pulsos de
ambas as mãos ao mesmo tempo. O tempo gasto para
realizar tal exame varia de acordo com a dificuldade do
diagnóstico no caso em questão. Primeiramente, o
médico compara o pulso do paciente com sua própria
respiração: se 5 pulsações são contadas desde o início
61
62. da inspiração ao final da expiração, o paciente não
apresenta nenhuma doença séria. No entanto, se mais
ou menos do que 5 pulsações são contadas, o exame
do pulso irá certamente prolongar-se por um certo
tempo, uma vez que esse é um sintoma de distúrbios de
uma natureza mais séria. Geralmente, um diagnóstico
pelo pulso leva entre 5 a 10 minutos, mas algumas
vezes pode demorar-se mais.
A melhor hora do dia para o exame do pulso é pela
manhã. O paciente deve estar em jejum ou, pelo menos,
não deve ter comido ou bebido grande quantidade de
alimento ou bebida. O paciente também deve estar
relaxado, se possível.
Os médicos tibetanos explicam o exame do pulso
de maneira típica também: sobre as extremidades de
seus três dedos palpadores, o médico descreve as seis
posições que são palpadas. Dois órgãos são
relacionados a cada extremidade dos dedos da mão
direita e esquerda.7
Posições profundas e superficiais
Superficial (pressão leve): todos os órgãos sólidos (don)
Profunda (pressão forte): todos os órgãos ocos (snod)
62
63. Topologia
mão esquerda do paciente mão direita do paciente
mão direita do médico mão esquerda do médico
Mulher
Indicador (mtshon)
don (direito) pulmões (glo ba) coração (snying)
snod I intestino grosso (long ka) intestino delgado (rgyu ma)
(esquerdo)
médio (kan ma)
don (direito) baço (mcher pa) fígado (mchin pa)
snod II estômago (pho ba) vesícula biliar (mkhris pa)
(esquerdo)
anelar (chag)
don (direito) rim esquerdo (mkhal g-yon) rim direito (mkhal g-yas)
snod III bsam se‟u bexiga (lgang pa)
(esquerdo)
Homem
indicador (mtshon)
don (direito) coração (snying) pulmões (glo ba)
snod I intestino delgado (rgyu ma) intestino grosso (long ka)
(esquerdo)
médio (kan ma)
don (direito) baço (mcher pa) fígado (mchin pa)
snod II estômago (pho ba) vesícula biliar (mkhris pa)
(esquerdo)
anelar (chag)
don (direito) rim esquerdo (mkhal g-yon) rim direito (mkhal g-yas)
snod III bsam se‟u bexiga (lgang pa)
(esquerdo)
63
64. Mão esquerda do paciente
Mão direita do médico
indicador 1
I
mtshon
2
médio 3
II
kan ma
4
anelar 5
III
chag
6
Mulher
1 pulmões glo ba indicador I
2 intestino delgado long ka
3 baço mcher pa médio II
4 estômago pho ba
5 rim esquerdo mkhal g-yon anelar III
6 bsam se‟u bsam se‟u
Homem
1 coração snying indicador I
2 intestino delgado rgyu ma
3 baço mcher pa médio II
4 estômago pho ba
5 rim esquerdo mkhal g-yon anelar III
6 bsam se‟u bsam se‟u
64
65. Mão direita do paciente
Mão esquerda do médico
1 indicador
I
mtshon
2
3 médio
II
kan ma
4
5 anelar
III
chag
6
Mulher
1 coração snying indicador I
2 intestino delgado rgyu ma
3 fígado mchin pa médio II
4 vesícula biliar mkhris pa
5 rim direito mkhal g-yas anelar III
6 bexiga lgang pa
Homem
1 pulmões glo ba indicador I
2 intestino delgado long ka
3 fígado mchin pa médio II
4 vesícula biliar mkhris pa
5 rim direito mkhal g-yas anelar III
6 bexiga lgang pa
65
66. Os órgãos na medicina tibetana estão divididos em
dois grupos:
5 órgãos sólidos: coração, fígado, pulmões, baço e rins
6 órgãos ocos: intestino grosso, vesícula biliar, intestino
delgado, estômago, bexiga e bsam se‟u
Esta classificação dos órgãos em grupos é
notável. No Volume 1, descobrimos a distribuição dos
don e snod em rLung (vento), mKris pa (bile) e Bad kan
(fleuma):
rLung mKris pa Bad kan
don coração fígado baço
rins
pulmões
snod intestino grosso vesícula biliar estômago
bsam se‟u intestino delgado bexiga
As relações entre os três humores e os vários órgãos
podem ser claramente observadas no caso do
diagnóstico através do exame do pulso:
Todos os órgãos sólidos (don) são palpados com o
lado direito da extremidade do dedo;
Todos os órgãos ocos (snod) são palpados com o
lado esquerdo da extremidade do dedo.
As diferenças entre os pulsos dos homens e das
mulheres são as seguintes:
66
67. Posição I
Mulheres mão esquerda do paciente e mão direita do médico
= pulmões (glo ba) e intestino delgado (long ka)
mão direita do paciente e mão esquerda do médico
= coração (snying) e intestino delgado (rgyu ma)
Homens mão esquerda do paciente e mão direita do médico
= coração (snying) e intestino delgado (rgyu ma)
mão direita do paciente e mão esquerda do médico
= pulmões (glo ba) e intestino grosso (long ka)
Uma comparação entre os pulsos chineses e
tibetanos
Na medicina tradicional chinesa, os seguintes
órgãos são definidos como:
Os cinco tsang = órgãos sólidos (Yin): fígado,
coração, baço, pulmões, rins (circulação – sexo). Este
grupo de órgãos corresponde aos cinco don descritos
no Volume 1.
Os seis fu = órgãos ocos (Yang): vesícula biliar,
intestino delgado, estômago, intestino grosso, bexiga,
triplo – aquecedor. Este grupo de órgãos corresponde
aos seis snod como descrito no Volume 1.
A principal diferença:
Todos os grupos são interligados.
Órgãos sólidos tibetanos (don): superficial.
Órgãos ocos tibetanos (snod): profundo.
Órgãos ocos chineses (fu): superficial.
Órgãos sólidos chineses (tsang): profundo.
67
68. Pulsos chineses
mão esquerda do paciente mão direita do paciente
coração pulmões
intestino delgado I intestino delgado I
fígado baço
vesícula biliar II estômago II
rins circulação – sexo
bexiga III triplo-aquecedor = san chiao III
Chinês Tibetano Chinês Tibetano
mão esquerda do paciente mão direita do paciente
I coração coração pulmões pulmões
intestino delgado intestino delgado intestino grosso intestino grosso
homens homens
pulmões coração
intestino grosso intestino delgado
mulheres mulheres
II fígado baço baço fígado
vesícula biliar estômago estômago vesícula biliar
III rins rim esquerdo Circulação-sexo rim direito
bexiga bsam se‟u triplo-aquecedor = bexiga
mulheres san chiao
rim esquerdo
bsam se‟u
homens
Uma comparação das posições das tomadas de
pulso mostra em quais aspectos o diagnóstico pelo
pulso tibetano e chinês diferem e assemelham-se. Se
considerarmos as posições, encontramos que o
diagnóstico tibetano pelo pulso, até certo ponto, retrata
mais fielmente a estrutura anatômica real do corpo
quando o baço é palpado sobre a mão esquerda,
enquanto o fígado e a vesícula biliar são palpados do
lado direito. Devemos adicionar também que não há
falta de lógica quando os rins, um par de órgãos, são
68
69. palpados de ambos os lados, tanto na mão esquerda
quanto na direita.
Devemos fazer alguma observação sobre o órgão
“bsam se‟u”. Este termo não aparece no texto onde os
grupos de órgãos, “don” e “snod” são relacionados
(rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo 3, Volume 1). Apesar
disso, os tibetanos relacionam este órgão como um dos
órgãos ocos (snod), o sexto nesse grupo. Bastante
estranho, no entanto, nas tabelas de pulsologia que
examinei enquanto estive com os médicos tibetanos,
este órgão é referido como “bsam se‟u” = vesícula
seminal, na posição correspondente dos pulsos
femininos, o útero (mngal).
O fato de que a divisão dos órgãos em grupos
descrita acima é idêntica na medicina tibetana e chinesa
(tsang – Yin = don, fu – Yang = snod), indica que os
tibetanos muito provavelmente adotaram o diagnóstico
pelo pulso a partir dos chineses. É possível que com o
termo “bsam se‟u”, os tibetanos tenham criado seu
equivalente ao órgão triplo-aquecedor chinês (chin san
chiao).
Notas históricas
Na medicina antiga indiana, há também analogias
entre os três humores e certos órgãos, mas não há uma
estrita divisão como na medicina chinesa. Por outro
lado, a divisão dos órgãos tibetanos em “don” e “snod” é
quase idêntica à dos chineses. Portanto, podemos
afirmar que, uma vez que os tibetanos utilizam esses
grupos de órgãos em seu diagnóstico do pulso, eles o
adotaram dos chineses.
Está registrado que os primeiros livros tibetanos
sobre diagnóstico pelo pulso foram escritos por um
69
70. médico tibetano, gYu thog pa Yon tan mgon po rnying
ma. Esses livros foram entitulados “mngon shes gnad kyi
„phrul „khar” e “rtsa dpyad rig pa rab gsal sde gsal sde
tshan lnga pa lag len pod chung”.
gYu thog pa Yon tan mgon po rnying ma (o mais
velho), foi contemporâneo do rei Khri srong lde btsan,
que reinou de 755 até 797 D.C. A suposição de W. A.
Unkrig (na Introdução da obra “Die tibetische
Medizinphilosophie” por C. von Korvin-Krasinski, págs.
xxi-xxii, de que o conhecimento sobre o pulso e a
palpação pode ser atribuído a gYu thog pa Yon tan
mgon po gsar pa (o mais novo), que viveu no século 11,
está obviamente incorreta. Pelo fato de gYu thog pa Yon
tan mgon po rnying ma (o mais velho) ter escrito dois
livros altamente respeitados sobre o diagnóstico tibetano
pelo pulso, devemos admitir que o diagnóstico pelo
pulso já devia ser conhecido pelos tibetanos em sua
forma atual desde os meados do século 8. Esta
suposição é também sustentada pelo fato de que a
medicina tibetana floresceu exatamente nessa época.
Um intercâmbio de idéias particularmente ativo entre os
vários sistemas médicos estava em progressão naquela
época, como pode ser demonstrado pelo “Debate de
bSam yas”, ocorrido em 794 D.C., no qual participaram
médicos da China, Índia, Pérsia, Nepal, Sinkiang,
Kashmir e Afeganistão.
No entanto, a data exata das primeiras influências
chinesas nesta esfera pode ser determinada apenas
quando alguns livros – pelo menos vinte e quatro –
sobre diagnóstico chinês pelo pulso tiverem sido
traduzidos pelos Sinologistas. Apenas então será
possível determinar a diferença entre os diagnósticos
pelo pulso tibetano e chinês.8
70
71. RAIZ B
Tronco V = Questionamento
dri ba
ramos folhas
slong rkyen 3
na lugs 23
zas 3
3 29
71
72. 3. Questionamento (Anamnese)
Um questionamento correto do paciente é
considerado uma maneira clara de reconhecer uma
doença. Primeiramente, o médico pergunta ao
mensageiro que foi enviado pelo paciente:
1) Quais as queixas gerais ou específicas de que sofre o
paciente;
2) A quais tratamento ele já se submeteu;
3) Quando o paciente ficou doente; e
4) Que médico já tratou do paciente.
Quando recebe as respostas a essas questões,
um bom médico já deve ter uma idéia do que está
errado com o paciente.
Quando questiona realmente o paciente, o médico
está interessado em descobrir: que medicamentos ele já
tomou; se já foram realizados sangria ou outros métodos
de tratamento; e finalmente, o que o paciente refere que
está errado consigo e o que comeu ou bebeu. Após
essas questões gerais o médico precisa observar o
sistema prescrito que possibilita diagnosticar tanto o que
está errado com o paciente como o tipo constitucional do
mesmo.
1. Causas Produtoras
Um médico tibetano sabe quais características das
potências dos medicamentos ou alimentos como causas
produtoras podem levar ao aparecimento de certas
condições de doenças. Assim, ele pergunta ao paciente,
primeiramente, se as condições leves e ásperas,
72
73. pungentes e quentes, pesadas e oleosas se
harmonizam com ele.
Uma doença de rLung está presente se o paciente
responde que condições leves e ásperas não condizem
com ele.
O paciente está sofrendo de uma doença de mKris
pa se ele responde que as condições pungentes e
quentes não condizem com ele.
O paciente sofre de uma doença de Bad kan se
ele responde que as condições pesadas e oleosas não
se harmonizam com ele.
Estas são as três questões sobre as causas
produtoras.
2. Condições das Doenças
Sabedor de que há certas condições que levam às
doenças, as quais estão relacionadas com os três tipos
constitucionais e suas patologias, o médico tibetano
pergunta ao paciente se as seguintes condições estão
presentes:
1) bocejos e tremores,
2) espreguiçamento,
3) calafrios,
4) dores em todas as articulações da coxa e quadril,
5) dores indefinidas que se movimentam,
6) vômito (de estômago) vazio,
7) os órgãos dos sentidos não têm brilho,
8) o conhecimento está embotado,
9) há dor na hora da fome.
Se esses sintomas estiverem presentes, o paciente é
um tipo rLung e está sofrendo de uma doença de rLung.
73
74. 1)
gosto amargo,
2)
cefaléias,
3)
ondas de calor,
4)
dores na região superior (do corpo),
5)
dores após a digestão.
Se esses sintomas estão presentes, o paciente é
um tipo mKris pa e está acometido de uma doença de
mKris pa.
1) falta de apetite,
2) dificuldade em digerir o alimento,
3) vômitos,
4) gosto ruim na boca,
5) distensão abdominal,
6) eructações,
7) corpo e mente tornam-se pesados (ambos),
8) sensação de frio dentro e fora do corpo,
9) desconforto após comer.
Se esses sintomas estiverem presentes, o
paciente é um tipo Bad kan e está acometido de
um distúrbio de Bad kan.
Estas são as 23 questões sobre as condições das
doenças (rLung = 9, mKris pa = 5, Bad kan = 9).
74
75. 3. Alimentação
Sabedor de que alimentos com características
específicas podem acarretar uma melhora nas
condições do paciente, o médico pergunta, finalmente,
ao paciente:
1) Se ele melhora após a ingestão de alimentos
oleosos. Se esse for o caso, o paciente é um tipo
rLung e está acometido de uma doença de rLung.
2) Se ele sente-se melhor após a ingestão de
alimentos que sejam frios. Se esse for o caso, o
paciente é um tipo mKris pa e está acometido de
um distúrbio de mKris pa.
3) Se ele melhora após a ingestão de alimentos que
sejam mornos. Se esse for o caso, o paciente é
um tipo Bad kan e está acometido de um distúrbio
de Bad kan.
Estas são as três questões sobre a alimentação.
Resumo
1. causas produtoras 3 questões
2. condições das doenças 23 questões
3. alimentação 3 questões
29 questões
Estas 29 questões são características típicas da
medicina tibetana e os médicos tibetanos costumam
conduzir o questionamento dessa maneira sistemática.
Pude observar freqüentemente como os médicos nos
Himalaias eram capazes de restringir as possibilidades
de uma doença através destas questões especialmente
direcionadas e determinar também o tipo constitucional
75
76. do paciente. No entanto, o fato é que existem
relativamente poucas pessoas que sejam definidamente
rLung, mKris pa e Bad kan. A maioria das pessoas são
casos mistos, sendo que as características dominantes
determinam o tipo constitucional do indivíduo. Se, no
entanto, as características forem demasiadamente
mistas de forma a serem igualmente divididas entre
todos os três tipos, são então relacionados em tipos
mistos como “rLung-mKris pa” ou “Bad kan-mKris pa”,
por exemplo. O tipo de tratamento também é
direcionado a tais características.
É difícil imaginar qualquer outra medicina tendo tal
sistema inteligente e sistemático de questionamento
como a medicina tibetana. Certamente, os médicos
tibetanos colocam muita ênfase neste detalhado e exato
método de questionamento. Diz-se que os médicos que
podem diagnosticar uma doença após um grupo de
questões são bem conhecidos e gozam de ótima
reputação.
76
77. Capítulo Três TERAPÊUTICA
Sumário do Capítulo
Introdução
A) Bloco de impressão do rGyud bzhi, Parte 1, Capítulo
5 – fólio 9a, 9b
B) Transliteração do texto
C) Tradução do texto
D) Apresentação
E) Métodos de tratamento
1. Nutrição
2. Comportamento
3. Medicamentos
4. Tratamentos
INTRODUÇÃO
Como no capítulo anterior, os fólios, páginas e
linhas do bloco de impressão foram incluídos na
transliteração (9a2-9b4). Na tradução, os troncos estão
numerados de VI-IX e as folhas de 1-98.
Foi possível também neste caso identificar todas
as 98 folhas e os 27 ramos, de forma que todas as 98
folhas foram enumeradas consecutivamente.
Os 4 troncos da Raiz C = Terapêutica
VI Nutrição
VII Comportamento
VIII Medicamentos
IX Tratamentos
foram, portanto, analisados e apresentados na mesma
ordem como no capítulo anterior: Blocos de impressão
(A), Transliteração (B), Tradução (C) e Apresentação
(D). Os métodos terapêuticos (E) serão então descritos
aqui.
77
78. Descrições um pouco mais detalhadas estão
incluídas nos métodos terapêuticos que podem ser mais
facilmente aplicados no Ocidente – moxabustão e
sangria.
Evidentemente, será possível trabalhar aqui
apenas com os métodos mencionados no texto em
questão. O repertório completo de métodos de
tratamento é naturalmente muito longo e deverá ser
trabalhado no Volume III. No entanto, esta descrição de
alguns dos métodos torna mais óbvio uma vez que os
métodos em questão referem-se claramente aos tipos
constitucionais.
Deve-se também acrescentar que a cirurgia não foi
mencionada no sistema de medicina tibetana.
Entretanto, uma breve descrição foi incluída neste
volume.
78
83. B) TRANSLITERAÇÃO DO TEXTO
de nas yang drang srong Rig pa‟i ye shes kyis skad ces gsungs so
kye drang srong chen po nyon cig
(9a2) nad la gso bar byed pa‟i gnyen po ni [1]
zas dang spyod lam sman dpyad bzhi yin te [2]
rta bong „phyi ba lo sha sha chen dang [3]
„bru mar lo lar bu ram sgog skya btsong [4]
„o ma lca ba ra mnye zan chang dang [5]
bur chang rus chang rlung nad can gyi (9a3) zas [6]
ba ra‟i zho dar mar gsar ri dvags sha [7]
ra sha skom sha gsar pa chag tshe dang [8]
skyabs dang khur tshod chab tsha chu bsil dang [9]
bskol grangs mkhris pa‟i nad kyi zas su btsad [10]
lug dang g-yag rgod gcan gzan nya yi sha [11]
(9a4) sbrang rtsi skam sa‟i „bru rnying zan dron dang [12]
„bri yi zho dar gar chang chu skol ni [13]
ba kan nad gzhi can gyis bsten par bya [14
83
84. C) TRADUÇÃO DO TEXTO
Então, novamente, o sábio Rig pa‟i ye shes falou
assim:
“Ouça, oh grande sábio! Para medidas que levem
à cura no caso das doenças, existem quatro: nutrição,
comportamento, medicamentos e tratamentos.
Os alimentos para uma pessoa que sofre de
doenças de rLung (I):
cavalo (1), macaco (2), marmota (3), carne de um idoso (4),
carne humana (5), óleo de gergelim (6), óleo envelhecido
(7), açúcar mascavo (8), alho (9), cebolas (10).
[5] (II): leite (11), sopa de cenoura e alho (12), líquido
extraído do açúcar cru (13), sopa de ossos (14).
A alimentação de uma pessoa que sofre de um
distúrbio de mKris pa (III) é:
iogurtes de leite de vaca e cabra (15), manteiga (16),
manteiga fresca (17), carne de veado (18), carne de
cabrito (19), carne fresca de animais de
desenvolvimento misto (20), cevada fresca (21), ervas
“skyabs” (22), dente-de-leão (23),
(IV): água quente (24), água fria (25),
[10] (água) fervida e fria (26).
(Os seguintes alimentos) devem ser adotados
pelas pessoas afetadas por Bad kan (V) como base da
doença:
carneiro (27), iaque selvagem (28), animais de caça
(29), peixe fresco (30), mel (31), mingau quente de
grãos envelhecidos plantados em solo seco (32),
(VI): iogurtes e manteiga da fêmea do iaque (33),
cerveja forte (34), água fervida (35).
84
85. rlung la dro sar yid „ong grogs bsten dzing [15]
mkhris pa‟i nad la bsil sar dal bar bsdad [16]
bad (9a5) kan nad la rtsol bcad dro sa bsten [17]
rlung la mngar skyur lan tsha snum lci „jam [18]
mngar kha bska bsil sla rtul mkhris pa‟i sman [19]
tsha skyur bska rno rtsub yang bad kan no [20]
ro nus de la sbyor ba zhi sbyang gnyis [21]
zhi byed rlung la khu ba (9a6) sman mar gnyis [22]
mkhris pa‟i nad la thang dang cur nis bsten [23]
bad kan nad la ril bu tres sam sbyar [24]
lhu ba rus khu bcud bzhi mgo khrol te [25]
sman mar dza ti sgog skya „bras bu gsum [26]
rtsa ba lnga dang sman chen dag la (9b1) sbyar [27]
ma nu sle tres tig ta „bras bu‟i thang [28]
ga bur tsan dan gur gum cu gang phye [29]
btsan dug tshva sna rnams kyi ril bu dang [30]
85
86. [15] No caso de (um distúrbio de) rLung (VII), o paciente
deve manter-se na companhia de pessoas agradáveis
(36) em local aquecido (37).
No caso de (um distúrbio de) mKris pa (VIII), o
paciente deve sentar-se calmamente (38) em um local
fresco (39).
No caso de (um distúrbio de) Bad kan (IX), o
paciente deve fazer caminhadas enérgicas (40) e
conservar-se em local aquecido (41).
No caso de rLung (X): doce (42), azedo (43) e
salgado (44).
(XI): oleoso (45), pesado (46) e suave (47).
Medicamentos para mKris pa (XII): doce (48),
amargo (49), (e) adstringente (50).
(XIII): frio (51), fraco (52) e embotado (53).
[20] E (no caso de) Bad kan (XIV): pungente (54), azedo
(55) e adstringente (56), (XV): penetrante (57), áspero
(58) (e) leve (59).
Quanto aos sabores (X-XII-XIV) e potências (XI-
XIII-XV) citados, há dois tipos de preparações: (tornar)
calmo e (tornar) limpo.
(Aqueles que) tornam calmo, nos casos de rLung,
são de dois (tipos): sopas (XVI) (e) óleos medicinais.
(XVII) Nos casos de distúrbios de mKris pa o
paciente deve tomar xaropes (XIII) e pós (XIX). Deve-se
preparar pílulas (XX) (e) pastas (XXI) nos casos de
distúrbios de Bad kan.
[25] Sopas: sopa preparada com ossos (60), os
quatro sucos (61), e a (sopa) “mgo khrol” (62).
Óleos medicinais devem ser preparados com
nardo (63), alho (64), as três frutas (65), as três raízes
(66) e os acônitos (67).
N. do T.: Nardostachys jatamansi.
86
87. Xaropes de: rizoma de lírio florentino (68), “sle
tres” (69), Swertia chirata (70) e as frutas (71).
Pós: cânfora (72), sândalo (73), açafrão (74) e
suco resinoso do bambu (75).
[30] Pílulas: de acônito (76) e de vários tipos de sal
(77).
87
88. tres sam se „bru da lis rgod ma kha [31]
tshva dang cong dzi bsregs pa‟i thal sman no [32]
sbyong byed (9b2) rlung gi nad la „jam rtsi ste [33]
mkhris pa bshal la bad kan skyugs kyis sbyang [34]
„jam rtsi sle „jam bkru „jam bkru ma slen [35]
bshal la spyi bshal sgos bshal drag dang „jam [36]
skyugs la drag skyugs gnyis su sbyar [37]
dpyad du bsku mnye hor gyi me btsa‟ dang [38]
rngul dbyung gtar ga chu yi „phrul „khor dang [39]
dugs dang me btsa‟ rim bzhin dpyad kyis bcos [40]
de ltar gso thabs dgu bcu rtsa brgyad po [41]
(9b4) yengs med gus par brtson pas bsten byas na [42]
nad kyi „dam las myur du grol bar „gyur [43]
zhes gsungs so
bdud rtsi snying po yan la brgyad pa gsang ba man ngag gi rgyud
las gso thabs kyi le‟u ste lnga pa‟o
88
89. Pastas: romãs (78), rododendros (79), “rgod ma
kha” (80) e medicamentos alcalinos à base de sal
queimado (81) e pedra branca (82).
(Quanto às preparações que) purificam, nos casos
de doenças de rLung (XXII), (utilizam-se) enemas
oleosos.
(Nos casos de) doenças de mKris pa (XXIII):
laxantes.
(Nos casos de) doenças de Bad kan (XXIV), (são
tornadas) purificadas com eméticos.
[35] Enemas oleosos: (preparam-se) enemas
suaves (83), enemas purgativos (84), purgativos que
não são fracos (85).
No caso dos laxantes (preparam-se): laxantes
gerais (86), laxantes especiais (87), laxantes fortes (88)
e fracos (89). No caso dos eméticos: duas (formas):
eméticos fortes (90) e fracos (91).
Quanto aos tratamentos: (rLung) (XXV):
massagem com unção (92) e cauterização do tipo
mongol (93).
(mKris pa) (XVI): produção de suor (94), sangria
(95) e a roda de água mágica (96).
[40] (Bad kan) (XXVII): (tratamento com) calor (97)
e cauterização (98).
(Através desses) tratamentos pode-se curar
(doenças causadas por distúrbios de rLung, mKris pa e
Bad kan) respectivamente.
Portanto, há 98 métodos de cura.
Aquele que confiar nos mesmos atentamente,
respeitosamente e diligentemente será rapidamente
libertado do pântano da doença.”
Assim falou ele.
89
90. Quinto capítulo sobre os métodos de cura do
Tratado Secreto da Instrução sobre os Oito Ramos da
Essência da Imortalidade.
90